Uma investigação conduzida pela ONG sul-africana Open Secrets, publicada na quinta-feira (14.11), revelou um esquema de investimentos imobiliários milionários na África do Sul, envolvendo figuras políticas de Moçambique, República Democrática do Congo (RDC) e Guiné Equatorial. O relatório aponta que 162 milhões de rands (aproximadamente 8,4 milhões de euros) foram destinados à compra de propriedades por indivíduos ligados à elite governante, com destaque para membros da FRELIMO, partido no poder em Moçambique há quase cinco décadas.
O estudo sugere que os investimentos imobiliários na África do Sul, por parte da elite política moçambicana, ocorreram no contexto do caso das "dívidas ocultas", um dos maiores escândalos de corrupção pública da história pós-independência do país. Entre os nomes destacados está Jacinto Ferrão Filipe Nyusi, filho do ex-presidente Filipe Nyusi, que comprou uma casa de luxo avaliada em 17,5 milhões de rands (912.772 euros) em Sandhurst, um dos bairros mais exclusivos de Joanesburgo.
De acordo com a Open Secrets, a propriedade foi adquirida em julho de 2015, apenas dois anos após a campanha política de Nyusi aceitar subornos da empresa Privinvest, implicada nas dívidas ocultas que superam os dois mil milhões de euros.
Antes da compra em Sandhurst, Jacinto Nyusi adquiriu outra propriedade em Constantia, Cidade do Cabo, em 2014, por 3,9 milhões de rands (203.405 euros). A casa foi vendida em março de 2018 por 4,5 milhões de rands (234.697 euros), oito meses após a publicação do relatório da consultora Kroll, que detalhava os ilícitos associados às dívidas ocultas.
Em 2016, Jacinto Nyusi realizou outro investimento significativo, adquirindo uma propriedade ainda mais cara em Sandhurst. Segundo a investigação, os negócios imobiliários foram facilitados por escritórios de advocacia que também participaram em transações ligadas ao escândalo.
O relatório também menciona Ndambi Guebuza, filho do ex-presidente Armando Guebuza, condenado por aceitar subornos de 33 milhões de dólares no escândalo das dívidas ocultas. Ndambi comprou duas propriedades em Gauteng, em 2013, avaliadas em mais de 20 milhões de rands (aproximadamente 1,05 milhão de euros).
A filha de Armando Guebuza, Valentina De Luz Guebuza, também figura na investigação. Em 2014, Valentina adquiriu duas propriedades em Dainfern, avaliadas em 15 milhões de rands cada (30 milhões de rands no total, cerca de 1,6 milhão de euros). Ambas as propriedades eram vizinhas e localizavam-se em um condomínio de luxo. Valentina foi morta a tiro pelo marido em 2016.
Outro nome envolvido é Bruno Langa, intermediário entre Armando Guebuza e empresários da Privinvest. Segundo a Open Secrets, Langa investiu mais de 13 milhões de rands (677.887 euros) em imóveis nas províncias de Gauteng e Mpumalanga, na África do Sul.
A Open Secrets acredita que, após o fim do mandato de Filipe Nyusi, ele poderá enfrentar ações judiciais relacionadas aos "donativos" recebidos durante seu governo. A investigação ressalta que o envolvimento da elite política moçambicana na compra de imóveis de luxo está intimamente ligado a práticas de corrupção, desviando recursos públicos enquanto o país enfrenta desafios econômicos e sociais significativos.
Essa revelação aumenta a pressão sobre os líderes políticos moçambicanos para esclarecer suas fontes de riqueza e enfrentar as consequências legais de suas ações.
[Fonte: DW Português|| Redação: Radar Magazine — MZ
|| Imagens: Arquivo Radar]
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