Quitéria Guirengane Repudia os Apelos Direcionados a Venâncio Mondlane para Parar as Manifestações


A activista social Quitéria Guirengane fez na tarde de hoje, uma publicação contundente repudiando os apelos que surgem de diversas partes, para que o candidato presidencial Venâncio Mondlane, por sinal o vencedor das eleições gerais, [processo que está sendo deturpado neste momento exato, através da falsificação de actas e editais, de forma a atribuir a vitória a FRELIMO e seu candidato, Daniel Chapo], interrompe as manifestações gerais por si convocadas, desde 21 de Outubro. Abaixo o enxerto da publicação em alusão:

«‼️O PARTIDO DISTANCIA-SE‼️

 

Resumo: "Os apelos para a violência parar devem ser feitos ao Presidente, ao Conselho Constitucional e a quem usa força contra o povo"

Nos últimos dias elevam-se apelos para Venâncio parar as manifestações ou assumir a consequência dos actos e sentimentos de cada um dos seus milhões de apoiantes, muitos destes apelos vindo de actores que nunca tiveram a coragem de chamar a responsabilidade quando a frelimo se permitiu distanciar durante 50 anos dos assassinatos, perseguições, sequestros, torturas e exclusões que sempre lhe caracterizaram. 

Muitos sentem pela primeira vez o aperto que nós sentíamos durante anos e que fingiam não ver porque não lhes afectava. O aperto de não saber se iríamos acordar no dia seguinte porque o cão do dono achava que o dono podia não ter gostado da nossa intervenção na TV. O aperto de viver num bairro cheio de insegurança e não podermos contar com a polícia porque não tem combustível. O aperto de ser assaltado, mas não poder esperar nada da polícia porque afinal o chefe da quadrilha também é um chefe lá na Polícia. O aperto de ter sido banida em todos os canais televisivos e receber chamada de um PCA a dizer "eu concordo com tudo o que dizes, mas os donos do país deram esta ordem". A insegurança de ser expropriado a sua terra porque os interesses económicos da elite valem mais do que a ocupação de boa fé do meu bisavô. O aperto de não saber se ao sair para trabalhar voltarei para casa sem ser violada no caminho. A maioria da população não precisou desta crise para saber o que é viver com medo. Bem vindos ao país do medo sobre o qual Azagaia cantou. E talvez só depois de passarmos todos por este sentimento é que teremos a empatia necessária para construir um país de segurança para todos ou de medo para todos. 

Há muitos seniores do partido frelimo que já há alguns anos me ligam regularmente, me saudam e elogiam pela luta necessária para a libertação do povo moçambicano. Muitos deles não têm a mesma coragem de expressar publicamente o que lhes vem na alma, mas durante todos estes anos lamentam com os botões os assassinatos, roubos, sequestros, detenções arbitrárias e roubos de votos.

Há poucas semanas quando circularam mensagens sobre reuniões supostamente promovidas pelo partido frelimo para falsificação de actas e editais, contactei alguém que também sempre lamentou sobre a situação do país e lhe informei que circulavam mensagens sobre a sua presença em determinada província onde tais falsificações ocorriam. Partilhei que isso afectava profundamente o meu respeito pelos valores morais que sempre defendeu. O que me foi mais curioso foi a sua resposta: "Não se preocupe, se há falsificação ela é feita por grupo de molwenes do partido, eu nunca entrei".

Sempre achei curioso e interessante que pessoas com elevado nível de instrução considerassem a hipótese de militar e beneficiar de um partido onde tem molwenes que obstruem a vontade do povo, mas enquanto isso não lhe afecta fecham os olhos para não ver. A hipótese de militar num partido onde tem esquadrões da morte, mas enquanto não for visível provas ao público, preferem fingir não ver. Diga-se, não provas de que existem esquadrões da morte porque isso é público. Não provas de que há agentes do Estado envolvidos no esquadrão porque Matavel provou isso. Não provas de que existem seniores envolvidos nas ordens porque isso também já veio a tona. Prova de que são todos cúmplices e beneficiários da manutenção no poder pela força das armas daqueles que "têm que querer para o povo querer que eles queiram". 

Trago esta reflexão hoje porque já veio ao público uma deputada do partido frelimo sugerir que Fátima Mimbire deveria ser violada por 10 homens, o partido se distanciou. Veio a público que o partido frelimo era indiciado de receber 10 milhões de dólares das dívidas ilegais, o partido se distanciou. Veio ao público que existia um deputado indiciado de violação, o partido se distanciou. Veio ao público mensagem de um senior a sugerir soluções extrajudiciais para os que criticam a frelimo e logo depois Cistac foi assassinado, seguiu-se o silêncio. 
Vieram evidências de enchimento de urnas a favor da frelimo, o partido se distanciou.
Vieram evidências de assassinato de opositores, o partido se distanciou. Veio um potencial deputado chamar um candidato eleitoral de cão e houve silêncio. Foram milhares de moçambicanos em todo o país vítimas de ódio sequestrados, torturados, assassinados, perseguidos, transferidos sob o distanciamento permanente do partido em relação ao povo.

Tornaram-se tão elitistas que se distanciam constantemente dos elementos do povo a quem chamam "molwene" e usam no trabalho sujo. 

Elvinos, Cistac, Siba Siba, Amurane, Pondeca, Matavel, entre muitos outros incluindo anónimos, fazem parte dos inúmeros distanciamentos cuja culpa sempre morreu solteira, sob o olhar impávido não só do sector judicial, mas daqueles que hoje condenam a retaliação. As pessoas de bom senso distanciam-se ainda mais no silêncio cúmplice e na omissão criminosa quando nos corredores dizem que são contra, mas publicamente não são capazes de admitir que perderam controlo do seu partido. 

No ano passado quando fizeram fraude em Gurué, iniciaram uma caça as bruxas contra todos os funcionários municipais que apoiaram a oposição, incluindo transferir alguém que era secretária para passar a colectar lixo sem luvas. Não é violência? Não é vandalismo? Submeti no Tribunal vídeos da UIR a disparar na assembleia de voto, mas nem uma acção criminal foi levantada. É um vandalismo que não mereceu vídeos em tempo de antena. O Estado a perseguir agentes económicos que apoiam a oposição é um vandalismo sem tempo de antena. Secretários de bairro e de partido a escolher quem milita para a oposição com vista a ser recolhido às celas é vandalismo. A Polícia a balear e prender cidadãos ensaguentados caçados casa à casa por militarem na oposição é vandalismo sem tempo de antena. Chamar de terrorista e proferir ameaças contra cidadãos de origem indiana só porque deram pão a manifestantes não é vandalismo? 
A propaganda não cobre esse vandalismo porque o partido distancia-se. 

Ficou tão distante que deixou de sentir as dores desse povo, perdeu sensibilidade. Tão distante que as perdas económicas passaram a valer mais do que a vida humana. As pessoas que perderam a vida, que estão detidas e algumas condenadas a pagar mais de 100 mil Meticais pela sua liberdade, não são meras estatísticas. 

Mas como karma se semeia, hoje quando o povo começou a bater de onde dói mais já conhecem a teoria da culpabilização por omissão de dever. Já percebem o papel das lideranças na promoção da paz. Qualquer acção de diálogo que não se sustentar nestas premissas está condenada ao fracasso porque continua a ignorar a voz do povo. Continuam a condenar ao povo por se defender das injustiças quando todas as instituições falharam lhe proteger. 
Este momento ficará marcado com letras indeléveis na história do país porque os cidadãos descobriram os meios privados de tutela de direitos: 
- legítima defesa, 
- acção directa, 
- direito de resistência, 
- estado de necessidade e, 
- direito de retenção,
devidamente previstos e protegidos pelo nosso ordenamento jurídico.
 
Como se poderá repensar Moçambique quando milhares de moçambicanos continuam detidos, alguns arrancados dos cuidados intensivos directo para as celas? Como um diálogo quando a secreta que serve uma cor partidária falsifica fake news e até jornais para atacar quem pensa diferente? 

Hoje querem a todo o custo buscar lideranças a quem atribuir os danos económicos ocorridos no país durante a manifestação?
Enquanto a liderança do país e a do partido no poder não assumirem os danos humanos causados pela tortura, sequestros, assassinatos e detenções arbitrárias nestas manifestações, também "todos distanciam-se dos danos económicos", afinal "o partido distancia-se".

Pois então, se a frelimo nunca conseguiu controlar e assumir responsabilidade sobre os seus "molwenes" que agiam a "freelance" porque cargas de água hoje não tolera assumir que está a consumir os frutos de sua própria plantação quando todo um povo decide recorrer aos meios privados de tutela de direitos, de forma autónoma e independente?

É possível encher a boca para condenar a violência de alguém que ontem viu o seu pai receber 2 balas na cabeça e outras 5 em outras partes do corpo diante do silêncio das elites?

O diálogo e a reconciliação exige resolver esse distanciamento. Assumir que sem ordens superiores ou anuência das lideranças não existiriam hoje os chamados "molwenes" a roubar votos, a prender pessoas nem a matar oposição, e portanto representa a voz oficial da frelimo porque esta nunca responsabilizou. Por isso, sem nenhuma moral para hoje responsabilizar aos outros por permitir aos seus milhões de seguidores voluntários intolerâncias. De contrário, continuaremos num distanciamento colectivo de responsabilidades incapaz de traçar caminhos para reconciliação.

Eu sei que o "Povo no Poder" hoje assusta quando sua soberania foi longamente relegada a um plano terciário, mas o problema está longe de ser o povo parar. É preciso ter coragem para ir a raiz do problema e falar com quem verdadeiramente tem poder de parar esta violência. E nunca foi Venâncio, mas sim a verdade. A verdade cura, a verdade reconcilia, a verdade liberta. Se o Presidente Nyusi parar com a violência e escolher a verdade, a violência pára em 24 horas e estará criado o ambiente correcto para reconciliar a periferia e os centros; o urbano e o rural. Façam também apelos ao Presidente Nyusi, ao Conselho Constitucional, a PGR e as instituições que, não pela força das armas, mas pela força da verdade, devem ver, julgar e agir eticamente.

Basta de hipocrisia! Segurança para todos, ou todos assumimos a consequência do único país que permitimos erguer. E essa segurança passa por permitir a verdade reinar. 

QGuirengane

Escrito por Quitéria Guirengane

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