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CARTA ABERTA AOS PROFESSORES: o papel do educador em tempos de crise nacional



(Carta Completa, sem deturpação)

«Caríssimos colegas professores!

Já faz tempo que não escrevo textos tão longos devido as ocupações mas hoje decidi recordar a minha moda antiga porque as circunstâncias bateram a minha porta e sinto que devo esclarecer algo. A minha intervenção compreenderá duas partes, das quais, a primeira parte que preferi chamar parte colectiva compreende a chamada de atenção aos professores sobre o estado da nação e o papel do professor e a segunda parte (colectiva e individual) explica um pouco as razões que me levaram a apoiar um candidato presidencial ou partido diferente do habitual e a reacção dos colegas face a este posicionamento.

PARTE  I 
(parte colectivo)

Ilustres colegas! 

Não há duvidas que neste momento o pais vive um ambiente conturbado por causa de onda de agitação resultantes das contestações dos resultados que os órgãos eleitorais querem forjar deixando de lado a vontade do povo expressa na urna mas apesar disso tudo, continuamos a assistir colegas que dizem se distanciar do assunto e que neste grupo não há espaço para debater assuntos políticos. Posicionar-se desta forma diante de todas essas atrocidade não passa de um autêntico cobarde e ignorante, pois o que esta em causa neste momento é a soberania, são valores da nação toda e os interesses do povo em particular e é impossível não se discutir este assunto num grupo de professores porque eles também fazem parte desta pátria. 

Meus caros a situação que se vive no país já deixou de ser um assunto partidário e passou a ser um assunto da nação inteira onde todo moçambicano é chamado a dar seu a contributo. Ficar alheio à esta situação alegando que não pode se misturar porque não é político demonstra falta de amor à pátria. Não estou a dizer para você apoiar um partido político mas é obrigação de todo moçambicano que deseja ver um Moçambique melhor participar neste processo de libertação e resgate dos valores morais da soberania que estão reféns de um grupo que se diz ser da elite. 
Um moçambicano em particular o professor deve-se comover com o sofrimento dos outros. Não nos deve alegrar ver nossos irmãos a serem assassinados, prendidos sem justa causa no seu próprio país só porque fizeram aquilo que a lei lhes confere, (o direito expressão e a manifestação).
Diante desta situação é estranho o silêncio e distanciamento de alguns professores simplesmente porque estão a defender o seu pão ou cargo, ter este comportamento não passa de um traidor à pátria tal como faziam os moçambicanos integrantes da PIDE a quanto da luta de libertação nacional.

Meus caros, tal como frisei no início, esta luta não é só dos desempregados, operários e camponeses, esta luta é dos moçambicanos, pois mesmo nós os professores clamamos por melhores condições de trabalho, actos administrativos e boa remuneração. Aliás, não passa muito tempo desde que fomos mandados beber água quando exigíamos melhor enquadramento na TSU e depois disso recorremos à moda que nos caracteriza, murmurar nas redes sociais. Eu esperava ver muitos professores a se filiarem em partidos da oposição de forma directa como forma de se vingar diante de toda humilhação que passamos durante o processo da implantação da TSU, associado ao não pagamento de salários, HE e congelamento dos actos administrativos, mas pelo contrário, os professores foram mais uma vez apoiar aquele mesmo grupo que lhes mandou beber água, que lhes cortou subsídios, que reduziu seu salário até ficar com saldo negativo e os tais professores sempre se defendem com o slogan de sempre "estou lá para defender o meu pão, no dia da verdade vou escolher o candidato e partido da minha preferência".
 
Que na urna vigaram-se de verdade, disso eu não tenho dúvida, a prova disso é quando sempre vos acompanho a assistirem lives transmitidos em directo daquele candidato que tanto falam quando estão a trocar os copos porque olham nele como uma alternativa. Mas uma coisa é certa mesmo que você vote o contrário mas por ter feito campanha a favor deles isso ajudou a convencer um e outro e lhes faz acreditar que eles ganharam porque eles contam o número de pessoas que estavam na campanha e não votos. Diante deste comportamento a questão que se coloca é: até quando vão ficar no anonimato? Até quando vão continuar a murmurar nas redes sociais? Até quando vão fingir gostar dum partido quando não gostam? Será que não sabem que vocês estão livres de escolher vossos partidos e candidatos favoritos? Até quando os pequenos cargos vão privar as vossas opções políticas? Até quando vão continuar a fazer pressão ao governo via celular? Até quando essa ambição de querer ser chefe, director ou director adj vai vos fazer engolir sapos? Quando é que se juntarão ao povo? 

II 
(Parte individual e colectivo)

Alguns viram-me por aí apoiando um candidato e um partido diferente do habitual e andaram a lançar pedras contra a minha pessoa, minhas fotos com o candidato circularam em todos grupos dos chefes a questionarem a minha postura e posicionamento. Uns não se contiveram e tomaram a coragem de aproximar meus familiares e apelar para eu mudar da posição que tomei antes que viessem consequências que pudessem colocar em causa a minha situação social e profissional. A informação chegou a mim e a única coisa que eu disse é que antes de tudo eu sou povo e sou servidor do mesmo, por isso, sigo o rumo do povo, inclino-me para o lado do povo e não para o lado das mordomias ou cargos e benefícios individuais. Apesar de dar esta resposta, fiquei ainda preocupado com o comportamento dos meus colegas professores e passei a me questionar se alguns professores conhecem seus direitos como professor e como cidadão, questionei-me se eles conhecem a Constituição da República de Moçambique e se costumam ler, questionei-me se eles acreditam em Deus e sabem que o destino é algo divino e por último questionei-me da qualidade dos nossos professores em geral pois o comportamento que eles apresentam não demonstra terem domínio de outros assuntos relevantes senão os do contexto didáctico-pedagógico e talvez este seja o desejo do governo, negar-nos educação de qualidade para conseguir manipular as nossas mentes. O medo e o comportamento destas pessoas, leva-me a acreditar que se o colono encontrasse as mesmas naquela época até então o país estaria sob custódia do colono, pois bastava dar um pequeno cargo e elas venderiam a nação inteira.

Quero que fique claro que eu não estou ali e com aquele candidato porque prometeram-me algum cargo, aliás para os que me conhecem sabem que nunca fiquei preocupado com isso. Estou ali porque tenho direito e isso, está bem explícito no artigo 3 e 53 ambos da CRM se a memoria não me atraiçoa , resumidamente, tenho direito e estou livre de escolher estar onde eu quero. Estou ali porque não sou cobarde, fingido e nem hipócrita. São vários os factores que me levaram a me juntar a causa mas de forma geral é o sofrimento a que o povo moçambicano esta submetido nestes últimos 10 anos de governação. Como pessoa, nunca fiquei alheio perante uma situação grave que abala o meu próximo diferentemente de muitos que dizem estarem satisfeitos com o que ganham e por conta disso, não podem se meter nestes assuntos evitando desta forma colocar em causa o seu pão. Pelo contrário, eu não luto pelo meu pão, eu luto pelo pão da maioria, por isso não posso ficar indiferente diante das injustiças, e sofrimento que o povo atravessa. Não posso conformar-me apesar de ser um assalariado num momento em que vive o povo se encontra numa situação de pobreza extrema sem o mínimo para comer, crianças sem futuro e jovens ainda com qualificações profissionais sem oportunidades de emprego, não posso me conformar em contextos em que a população da minha província vive fugindo de uma lado para outro e todas suas conquistas foram reduzidas a cinza. Já que não tenho outra formar de ajudar o melhor para mim foi juntar-me a causa do povo para ver se revertermos a situação.  

A minha participação directa à esta revolução não só é pelo respeito as minhas escolhas mas como professor esta é a melhor forma de dar aulas sobre a democracia, pois a partir do momento em que o aluno e a sociedade em geral verá um professor num partido fora do habitual compreenderá uma vez por todas o significado da democracia.

Que consequências virão disso eu tenho dúvida uma vez que estamos num pais onde as leis funcionam para os mais fracos e pobres mas mesmo assim algo me diz que devo continuar nesta luta contra corrupção, contra raptos, contra assassinatos macabros, contra perseguição, contra péssimas condições de trabalha contra salário insignificante e outros males que sabemos que são perpetrados por um grupo de pessoas que capturaram o Estado e vivem a vida a seu belo prazer apoiados por alguns que desejam ser chefes e outros que se conformam com uma simples camiseta e boné.

O facto de saber que cada um passa pelas linhas do seu destino deixa-me confortável e faz-me acreditar que o que faço faz parte do meu destino e a missão que tenho por cumprir nesta terra.
A terminar gostaria de apelar aos meus queridos colegas que não podemos continuar alheios vendo o nosso povo a sofrer apesar de recebermos algumas migalhas.

É preciso que saibamos separar partido, governo e Estado.
Para aqueles que estão a favor do regime digo mais força para vocês nós vamos continuar a ser os mal falados, os odiados e isolados pelos colegas, os que no terão acesso a mudança de carreira, os que serão transferidos para zonas recônditas, os que não progredirão profissionalmente mas mais do que isso, há um povo que nos admira, que nos inspira e que clama por socorro.  

Mais não disse, o meu muito obrigado

Partilhada e observadas dificuldades para identificar o autor. Caso o conheça informe-nos https://wa.me/message/OB56YYJC3ODHI1

[Redação: Radar Magazine — MZ || Imagens: Arquivo Radar]

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