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Guebuza questiona distribuição de riquezas em Moçambique: "qual é o país que distribui corretamente?"



O ex-presidente de Moçambique, Armando Guebuza, lançou uma reflexão profunda sobre a distribuição de riqueza no país, levantando questões que tocam diretamente nos desafios econômicos e sociais enfrentados pela nação. Durante um discurso recente, Guebuza questionou: "Qual é o país que nós conhecemos, que vocês conhecem, que tem uma distribuição de riqueza correta?" Essa interrogação foi acompanhada por uma análise crítica da trajetória de Moçambique desde a sua independência, destacando o que ele considera serem falhas na gestão dos recursos nacionais.

Para Guebuza, muitos países africanos, ao longo da história, souberam utilizar seus recursos naturais de forma mais eficaz, colhendo benefícios mais amplos para suas populações. Ele apontou que o mesmo não pode ser dito sobre Moçambique, que, segundo ele, não conseguiu implementar uma política de distribuição de riquezas que fosse verdadeiramente inclusiva. "Quando Moçambique alcançou a independência, os olhares internacionais estavam voltados para a forma como geriríamos nossos recursos. Porém, hoje ainda enfrentamos problemas que persistem no acesso e partilha desses recursos", afirmou.



O ex-presidente não economizou palavras ao fazer uma análise detalhada das riquezas naturais de Moçambique, como o gás, carvão e outros recursos minerais, questionando se os benefícios dessas riquezas estão chegando a todos os moçambicanos. “Quando se fala de distribuição de riqueza, estamos a falar de um processo que deveria beneficiar a maioria, mas isso ainda não acontece”, ressaltou Guebuza. Ele alertou que a má gestão dos recursos naturais tem potencial de aprofundar as desigualdades, especialmente em áreas já marginalizadas.

O ex-presidente destacou que, embora Moçambique tenha atraído grandes investimentos estrangeiros para explorar os seus recursos, os resultados práticos para o povo moçambicano ainda estão aquém do esperado. “É preciso rever o papel do Estado e das empresas multinacionais neste processo. Não podemos permitir que, ao invés de promover desenvolvimento, os nossos recursos acabem sendo um fardo”, enfatizou.


Guebuza aproveitou a oportunidade para comparar a experiência de Moçambique com a de outros países africanos que, segundo ele, conseguiram uma gestão mais equilibrada dos seus recursos. Ele apontou exemplos de nações que, com uma política mais eficaz de distribuição de riquezas, foram capazes de reduzir as desigualdades e impulsionar o desenvolvimento em diferentes setores.

No entanto, o ex-presidente também reconheceu que a história de África como um todo é repleta de desafios em relação à exploração e partilha justa dos recursos naturais. Ele sugeriu que, em muitos casos, a intervenção de potências estrangeiras tem dificultado o caminho para uma verdadeira soberania econômica. "A história africana mostra que, muitas vezes, as riquezas naturais atraem o interesse estrangeiro, e quando não há uma gestão interna forte, os benefícios dessas riquezas acabam sendo levados para fora", advertiu.


O discurso de Guebuza ocorre num momento em que Moçambique enfrenta desafios económicos significativos, agravados pela instabilidade na região de Cabo Delgado, onde estão localizados os vastos recursos de gás natural. A insurgência naquela área não apenas ameaça a segurança do país, mas também coloca em risco projetos bilionários que poderiam ser transformadores para a economia nacional.

Para muitos analistas, a questão levantada por Guebuza – sobre a distribuição justa dos recursos – é central para o desenvolvimento de Moçambique. Sem uma estratégia clara e eficaz, o país corre o risco de perder a oportunidade de usar suas riquezas naturais para reduzir a pobreza e melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos.

O ex-presidente também sublinhou que as políticas de distribuição de riqueza devem ser acompanhadas por investimentos em educação, saúde e infraestrutura, setores que, para ele, são fundamentais para garantir que os moçambicanos estejam capacitados para participar e beneficiar diretamente do desenvolvimento do país. "A verdadeira distribuição de riqueza não se trata apenas de partilhar os recursos de forma justa, mas de garantir que o nosso povo tenha as ferramentas para aproveitar as oportunidades que esses recursos podem proporcionar", afirmou.



Para concluir, Guebuza deixou uma mensagem clara: "Devemos refletir sobre o que queremos para o futuro de Moçambique." Ele insistiu que é hora de o país revisar suas políticas de gestão de recursos e distribuição de riquezas, com foco em garantir que o progresso econômico beneficie a todos, e não apenas a uma minoria. Ele sugeriu que essa reflexão não deve ser apenas do governo, mas de toda a sociedade moçambicana.

A interrogação de Guebuza, "Qual é o país que distribui riqueza corretamente?", é um convite à introspecção, e a resposta, segundo ele, está nas mãos do povo e dos líderes moçambicanos. As riquezas de Moçambique, embora abundantes, só poderão ser uma verdadeira fonte de prosperidade se forem geridas com responsabilidade, equidade e uma visão de longo prazo.

[Fonte: Integrity|| Redação: Radar Magazine — MZ || Imagens: Getty Images || Maputo, 2024]

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