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COMUNIDADE ISLÂMICA ROMPE O SILÊNCIO E ACUSA ALTOS DIRIGENTES DO ESTADO DE ENVOLVIMENTO NO NEGÓCIO DOS RAPTOS

Em um movimento sem precedentes, a Comunidade Islâmica de Moçambique decidiu romper o silêncio sobre a crescente onda de raptos que tem assolado o país desde 2011, apontando o dedo para altos dirigentes do Estado como cúmplices nesse lucrativo e criminoso negócio. A acusação foi feita durante um encontro realizado nesta sexta-feira, 9 de agosto, entre membros da comunidade e representantes da Polícia da República de Moçambique (PRM) e de instituições de Justiça.

Nazir Lunar - Membro da Comunidade Islâmica de Moçambique 

Nazir Lunat, um membro influente da Comunidade Islâmica, falou abertamente sobre o sequestro de seu pai, ocorrido enquanto este retornava da mesquita para casa. Lunat revelou que a primeira exigência dos sequestradores foi um resgate de dez milhões de dólares. "Estou a abrir o jogo", afirmou ele, destacando a ineficácia da brigada de 18 homens criada para investigar o caso, que nunca conseguiu resolvê-lo, levando-o a concluir que há uma conexão direta entre as autoridades e os criminosos.

"O meu pai foi raptado quando saia da Mesquita para casa. A primeira ameaça que recebemos foi o pagamento de dez milhões de dólares. Estou a abrir o jogo", disse Lunat, explicando que, após o pagamento parcial do resgate, a PRM contactou a família para saber quanto havia sido pago, o que, segundo ele, evidencia a conivência entre as autoridades e os raptores.

Nazir Lunat não hesitou em afirmar que "elementos do Governo estão envolvidos com o sindicato dos raptos", uma declaração que lança uma luz sombria sobre o funcionamento das instituições do país, incluindo o Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE). Ele acusa o SISE de não trabalhar em prol da população, mas de servir interesses políticos e outros objetivos obscuros. Lunat foi ainda mais longe, desafiando abertamente as autoridades: "Se estão errados, é para eu dizer, não é para ficar calado. Se é para matar, matem-me, não há problema, estou pronto para morrer, mas hei-de morrer pela causa do meu país".

Os números apresentados pelo ministro do Interior, Pascoal Ronda, em 19 de março, confirmam a gravidade da situação. Desde 2011, a PRM registrou 185 casos de rapto, com 288 pessoas detidas sob suspeita de envolvimento nesses crimes. Maputo lidera em número de ocorrências, seguida pela província de Maputo e Sofala. E o número continua a subir: desde abril deste ano, pelo menos cinco novos raptos foram reportados. Durante o mandato do Presidente Filipe Nyusi, cerca de 150 desses sequestros ocorreram.

Um relatório do Gabinete de Informação Financeira de Moçambique revela que, nos últimos 10 anos, o valor exigido pelos sequestradores ultrapassa 2,1 mil milhões de meticais, aproximadamente 33 milhões de dólares americanos.

No seu mais recente Informe sobre a Situação Geral da Nação, apresentado à Assembleia da República em 8 de agosto, o Presidente Filipe Nyusi admitiu que, em seus 10 anos no poder, não conseguiu erradicar o problema dos raptos, reconhecendo que o Estado falhou em garantir a segurança dos cidadãos. "Convém aqui dizer: resolvemos os problemas de raptos? Não. Mas estamos a combater os raptos dentro das nossas capacidades", declarou Nyusi, reconhecendo que o combate a esse crime não foi feito na totalidade.

As declarações de Nazir Lunat e o reconhecimento do próprio Presidente sobre o fracasso no combate aos raptos reforçam a percepção de que este crime se tornou uma indústria lucrativa que prospera às custas do medo e da insegurança, perpetuados por aqueles que deveriam zelar pela proteção dos cidadãos.

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