Durante o período colonial, o regime português, assim como outras potências coloniais, utilizava-se de uma estratégia bem calculada para manter o controle sobre as populações africanas: a cooptação de indivíduos nativos para trabalhar como Sipaios, uma força auxiliar usada na repressão de seus próprios conterrâneos. Esses homens, muitas vezes forçados a abandonar sua identidade cultural e a adotar um comportamento submisso, tornaram-se os famosos "lambe-botas" do sistema colonial. Eles eram utilizados como uma ferramenta de dominação, recebendo em troca comida, um pouco de dinheiro e álcool para suportar a humilhação e os abusos a que eram submetidos.
A imposição de nomes europeus era parte do processo de desumanização e dominação cultural. Ao abolir seus nomes africanos, os Sipaios perdiam um elemento crucial de sua identidade, sendo forçados a se alinharem aos interesses do colonizador. Essa despersonalização era intensificada pela violência física: frequentemente eram agredidos e mantidos embriagados, anestesiados pelos abusos que cometiam e pelos que sofriam.
É irônico e doloroso constatar que, mesmo após o fim do colonialismo, ainda existem pessoas que, ao se colocarem em posições de poder ou de prestígio, acabam exercendo papéis semelhantes. São indivíduos que, em troca de benefícios próprios, reproduzem dinâmicas de opressão e exploração, distanciando-se das lutas e das necessidades de suas comunidades. Essa triste herança colonial ainda se manifesta, de formas veladas, nos sistemas sociais e políticos contemporâneos.
Os Sipaios são um exemplo marcante de como o colonialismo usou a própria população local para perpetuar a opressão. Essa tática de dividir para dominar não apenas gerou sofrimento no passado, mas suas ramificações continuam ecoando nas estruturas de poder até os dias atuais.
[Fonte: África Profunda|| Redação: Radar Magazine — MZ || Redator: Edílson Simon || Fonte da Imagem: Getty Images || Maputo, 2024]
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