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Crônica: As boladas mortais do Mercado Estrela Vermelha…

«As boladas mortais do Mercado Estrela Vermelha…
Já vi, ali na Eduardo Mondlane, uma menina que chorava sem parar; jurava no meio de soluços que tinha comprado um colar de ouro, mas misteriosamente na pequena caixinha, em suas mãos, só tinha um minúsculo miolo de bronze de um cabo eléctrico. E quando voltou à pequena sombra do vendedor nenhum sinal dele. A menina espumando lágrimas foi engolida por um chapa de Malhazine e desapareceu com o miolo do cabo eléctrico para usá-lo na instalação eléctrica da sua tristeza.

Tive um vizinho que correndo para varrer os elementos de uma gigante lista de lobolo foi parar ao mercado Estrela; queria dois garrafões de vinho e saiu do Estrela com dois garrafões bem selados e empanturrados até à rolha com água fria pintada de saquetas de chá “Five Roses”. Descobriu isso na sograria quando começava a hora do brinde. O lobolo foi cancelado e ele saiu da sograria arrastando garrafões cheios de “Five Roses”.

Um professor de Química da minha antiga escola, Armando Guebuza, já foi ao Estrela para comprar uma resma de folhas para os testes. E chegado à escola, quando descerrava a fitinha da resma viu um entulho de jornais. E comoveu-se quando num dos jornais viu um defunto, na página de necrologia, que seria enterrado no mesmo dia na Lhanguene. O teste foi adiado em nome do defunto e em nome da resma.

São tantos episódios. O pastor da igreja da minha tia já foi ao Estrela para comprar uma chave de roda, porque os anjos nem sempre apertam bem as rodas dos pastores. No Estrela, o pastor viu uma bíblia estendida no passeio no meio de revistas de mulheres nuas; folheou a bíblia e viu que era a sua, a que tinha desaparecido na igreja. Viu a sua assinatura “Pastor Sigaúque, servo de Deus”. E a bíblia custava 200 meticais. Teve de comprar a sua própria bíblia.

Em 2007, quando Lucky Dube foi assassinado, um tio meu foi ao Estrela comprar uma pilha de discos desse vibrante artista. E estava lá a cara de Lucky Dube em todos os discos, e estavam lá os temas das músicas e a respectiva duração. E quando chegou a casa, o meu tio reuniu a família para ver Lucky Dube. E quando enfiou o disco no pequeno forno do DVD, depois de minutos, não surgiu Lucky Dube na tela. Surgiu um casal de actores jamaicanos pornográficos aos gritos.

O meu tio com uma mão lutava com o comando do DVD e com a outra varria a família da sala; enquanto isso, os dois actores, suados como Lucky Dube em palco, continuavam a fazer o seu trabalho. Depois de expulsar os actores disse para si mesmo “nunca mais compro nada ali no Estrela”.

Sérgio Raimundo - Militar»

 Fonte: Sérgio Raimundo - Militar

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